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Os blocos que compõem a esperança

Date 04-07-2024

por ARSENAL DA ESPERANÇA

Nos meses de maio e junho, o Arsenal da Esperança deu continuidade à parceria com o SENAI e a empresa Mendes Júnior e desta vez ofereceu aos acolhidos o curso de Alvenaria. O grupo, após os dez dias de aulas, já saiu com suas carteiras registradas para trabalhar nas obras da Linha 2 Verde do Metrô, contratados pela Mendes Júnior.

Com a finalização deste curso, ao longo do primeiro semestre de 2024, o Arsenal da Esperança ofereceu em parceria com as duas instituições, os três cursos essenciais para a base de uma obra: Armação de Concreto, Carpintaria e Alvenaria.

Conversamos com um dos integrantes da turma de Alvenaria: o angolano Nzinga Carlos, de 56 anos, que chegou no Brasil no dia 11 de novembro de 2023 e é sua primeira vez fora de Angola.

Como você conheceu o Arsenal?

O pessoal do aeroporto me levou até o Tatuapé, mas lá não tinha vaga, então me deram um número para eu ligar e foi assim que me buscaram e me trouxeram até o Arsenal.

Por que você escolheu fazer o curso de alvenaria?

Eu precisava trabalhar, porque não estava gostando muito de fazer bicos no Brás. Então na palestra de empregabilidade [realizada toda segunda-feira de manhã pelo Serviço Social do Arsenal da Esperança] fiquei sabendo do processo seletivo da Mendes Júnior e foi assim que consegui entrar para o curso aqui dentro do Arsenal.

Na Angola você trabalhava com o quê?

Eu era motorista de ônibus, por 5 anos levei as crianças na escola. E também sou eletricista.

O que você aprendeu no curso? Como foi a experiência?

Eu aprendi muita coisa. O professor me ensinou como construir a casa, a mexer com os blocos e como fazer as medidas para colocar os blocos. Eu gostei muito, o professor nos ensinou muita coisa mesmo. E agora que vou trabalhar na obra do metrô, vou melhorar ainda mais.

Como é iniciar uma nova carreira aos 56 anos?

Eu quero trabalhar pelo menos por um 1 ou 2 anos para depois chamar minha mulher e meus seis filhos, tenho que trazer eles, porque lá no nosso país falta muita coisa. Até meus filhos não estudam mais, não conseguimos pagar a escola para criança. Então decidi vender parte de minha casa para eu conseguir vir até aqui. Porque vir até aqui não é pouca “tripa”, tem que ter dinheiro, aliás, eu gastei 2.500 dólares só para chegar aqui.  

Por que você escolheu o Brasil e não outro lugar?

Escolhi o Brasil porque eu falo português. Eu estava entre Brasil e Portugal. A primeira coisa que fiz foi pedir o passaporte na embaixada portuguesa, mas não consegui, porque no nosso país para conseguir visto também demora muito. Eu esperei por seis meses e não saiu. A partir disso que tentei o Brasil e saiu o visto. Desde quando cheguei aqui, me receberam bem, eu nunca vi aqui discriminação, eu nunca vi pessoas como vocês, vocês sabem receber pessoas, vocês são boa gente, homem ou mulher, são muito boa gente. Eu gosto muito de estar aqui, é verdade sim.

Quais são as suas perspectivas para o futuro?

Eu quero aproveitar esse curso e esse trabalho de alvenaria muito bem, mas para o futuro eu quero fazer o curso de bombeiro, porque eu quero e vou estudar. Enquanto faço o trabalho da Mendes Júnior, continuo a estudar. Por isso estou trabalhando: para conseguir pagar essa escola, vou estudar por 7 meses, e quando terminar o curso de bombeiro, vou fazer esse trabalho no Brasil.

Com o salário da Mendes Júnior consigo pagar o curso de bombeiro e também um lugar para morar, uma casa, eu tenho que sair daqui para ficar melhor ainda. Aqui no Arsenal me receberam bem, me deram um trabalho, e agora com esse dinheiro já consigo ter uma outra casa.

De onde vem tanta força dentro de você para ao mesmo tempo trabalhar, estudar e pensar num novo trabalho no futuro?

A força dentro de mim é só rezar, porque eu rezo muito, eu falo “Meu Deus, saí do meu país para chegar até aqui para arranjar um emprego, para eu conseguir uma vida melhor”. A primeira coisa é que esse lugar me recebeu bem, me dá comida, me dá tudo, se eu fico doente, me dá medicamento. Mas não é tudo para mim, porque agora vou começar a guardar o dinheiro até chamar minha mulher e meus filhos. Eu sei que não será agora, mas Deus me dá um trabalho aqui no Arsenal, Deus me escuta. Eu estou com muita alegria mesmo.

Uma última coisa que eu gostaria de falar: Deus abençoa muito o Arsenal, porque desde que eu nasci nunca vi pessoas com coração como o de vocês, vocês são muito acolhedores, vocês acolhem mesmo, eu vejo isso com a minha própria vista, ninguém me falou. Eu cheguei no Brasil e não tenho nenhuma família aqui e estou mesmo feliz de estar aqui com vocês.

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