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Uma gastronomia que frutifica esperança

Date 23-05-2024

por ARSENAL DA ESPERANÇA

Em parceria com a SP Invisível, desde o ano passado, os acolhidos do Arsenal da Esperança estão tendo a oportunidade de fazer o curso de gastronomia voltado para pessoas vindas de situação de rua. As aulas são todas realizadas no complexo de cozinhas da Universidade Anhembi Morumbi.

Conversamos com Geraldo, de 47 anos, que participou da primeira turma desse curso, no final do ano passado, e hoje já tem carteira de trabalho assinada no Instituto Capim Santo.

"Me chamo Geraldo, sou de São Bernardo do Campo, vim parar no Arsenal da Esperança porque perdi toda a minha família e não tinha mais para onde ir. Aqui tive oportunidade de fazer cursos e um deles foi o de gastronomia. Hoje sou muito grato ao Arsenal da Esperança por ter me dado essa oportunidade, para eu reconstruir a minha vida, porque até então eu estava desanimado, em depressão. Já faz 2 anos que estou no Arsenal. Sempre procurei fazer minhas coisas corretas porque aqui é a minha casa e procuro sempre zelar onde eu moro.”

Por que você escolheu fazer o curso de gastronomia?

Eu gostei sempre de participar das coisas que tem aqui dentro e nessa curiosidade acabou aparecendo essa oportunidade, tive a chance de abraçar ela, de fazer o curso e depois fazer estágio na Raposo Tavares, no Instituto André Franco, na escola do CEAGESP e agora me chamaram para registrar minha carteira na sede da Barra Funda do Instituto Capim Santo. Quem me chamou foi a Camila, uma das professoras do curso. Eu a agradeço demais, porque ela me disse que eu tenho força de vontade.

Você nunca tinha trabalhado com gastronomia?

Nunca. Hoje é uma coisa que eu adoro. Eu nunca fui de cozinhar em casa, aprendi tudo no curso. Todos dias a gente aprendia uma nova coisa, coisas diferentes, sofisticadas. Eu não posso dizer que eu sei fazer aquele prato, eu ajudo quem sabe fazer e naquele ajudar estou olhando e aprendendo ao mesmo tempo, para chegar o momento que eu consigo fazer, como todos começaram lá traz.

Tem alguma coisa no curso que você fez e que nunca tinha comido?

Eu nunca tinha comido ceviche, é gostoso, mas não faz parte do meu agrado. Eu também nunca tinha comido o brigadeiro de capim santo e eu gostei bastante. É muito bom!

Você poderia nos explicar como foi entrar no mercado de trabalho após o curso?

No final de novembro, a psicóloga e a assistente social do curso me ligaram e me disseram de uma vaga na Raposo Tavares para fazer comida para moradores de rua e eu aceitei na hora. Eu fazia a comida e também ia distribuir toda terça e quinta-feira na Cracolância, na Marechal Deodoro, na São Martinho e em vários outros lugares. Depois disso, fiz estágio na escola do CEAGESP.

Como foi para você, que se encontra em situação de vulnerabilidade social, fazer comida para moradores de rua?

Eu nunca passei fome na minha vida, quando eu fui para a rua, sempre comia pelas doações. Eu ia atrás das coisas, nunca gostei de ficar parado. Para mim é muito prazeroso trabalhar com comida. Quando eu entregava as marmitas, eu conseguia me ver do outro lado, eu me via do outro lado. Mas acho que tem que partir da gente, não adianta se sua cabeça e seu coração não forem junto.

As coisas não são fáceis, se você não se dedicar e tiver força de vontade, não vai pra frente. Eu estou focando nisso e estou onde estou por conta de mim mesmo. Estou gostando de onde estou, é uma jornada e sei que vem mais coisas pela frente. Eu nunca esqueço uma frase do Papa Francisco que diz assim: “Os rios não bebem a sua própria água, o Sol não brilha para si, as árvores não comem seu próprio fruto e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver com os humanos é uma regra normal da natureza, a vida é boa quando a gente está feliz, mas ela é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.”. Nunca me esqueço disso.

Quais são suas perspectivas para o futuro?

Como eu entrei agora neste trabalho no Capim Santo, vou passar pelos três meses de experiência, vou me dedicar bastante para, assim que passar esse período, eu conseguir alugar o meu cantinho, ter minha vida privada e ficar sossegado. E mesmo que eu esteja longe da minha filha, eu tento dar a melhor educação para ela ser uma pessoa boa neste mundo onde as coisas estão tão difíceis.

E o que você almeja dentro da cozinha?

Eu almejo o melhor e o máximo, a gente nunca deve ficar numa posição confortável. Se hoje eu estou trabalhando na área do hortifrúti, amanhã eu gostaria de passar para o saladeiro, depois ir para a área do fogão, até chegar no grau máximo, a gente nunca pode se acomodar, a gente tem que procurar algo a mais. O meu pensamento é de começar de baixo e a partir dali eu vou gradativamente fazendo o meu serviço até chegar onde Deus permitir, só depende de mim e Dele.


Clique aqui e conheça outras histórias de esperança que se formaram neste curso de gastronomia, promovido pela SP Invisível! 

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