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Março

Carta à Fraternidade e aos amigos

Março de 2025

 

 

Caros amigos,

a página da regra que nos guia neste mês é “Simplesmente cristãos”:

Os cristãos da primeira comunidade

eram um só coração e uma só alma,

cristãos vinte e quatro horas

por dia,

unidos na Eucaristia, na oração,

na partilha.

Em suas pegadas vivemos no mundo

com as Bem-aventuranças no coração,

sabendo que vivê-las

é obra de Deus que se realiza em nós

e que nós podemos nos tornar

testemunhas vivas delas.

Não buscamos poder nem privilégios,

estamos a serviço com humildade

sabendo estar tanto no último lugar

como no primeiro.

Buscamos levar ao encontro de Deus

cada pessoa que se aproxima de nós,

a cada momento,

com um comportamento bom,

modesto, escondido.

Pessoas pobres e boas,

simples e sinceras,

pessoas que tentam ser

um pedaço de pão que todos podem comer,

pessoas que não ostentam o seu Senhor,

mas O vivem.

E se alguém tiver recebido de Deus

qualquer dom particular

ou for chamado a assumir grandes responsabilidades

ocupa o seu cargo com espírito de serviço,

sem privilégios.

Simplesmente cristãos.

Com a certeza

que as forças do mal

não prevalecerão.

Ser simplesmente cristãos significa escolher ter Jesus como mestre e segui-lo nos colocando à escola de suas palavras, dos seus gestos, dos seus comportamentos. Significa, por amor, desejar ser semelhante a ele, não por imitação, mas porque o seu coração mora em nós e lentamente nos transforma em filhos de Deus e irmãos entre nós. É desejar com todo o coração que Ele esteja contente de nós e possa contar com cada um de nós.

Eu desejo me assemelhar a Jesus, porque é o único que me convenceu verdadeiramente. As suas palavras são palavras de vida porque foram crucificadas, pregadas e ressuscitadas com Ele. Ser cristãos não é uma questão de práticas religiosas nem de regras morais para seguir. É questão de coração transformado, que se deixa suavizar, moldar, alargar por Deus, e lhe permite de arredondar os ângulos e as pontas, de alargar os horizontes, para aprender a amar verdadeiramente, a procurar o bem dos outros, a se colocar a serviço, a procurar os caminhos da paz sempre.

Há tantos anos me aconteceu de escutar pela primeira vez a Carta a Diogneto, um texto escrito por um autor anônimo, datado provavelmente à segunda metade do século II:

“Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem por território, nem pelo modo de falar, nem pela maneira de se vestir. De fato, não moram em cidades particulares, não usam alguma linguagem estranha, e não adotam um especial modo de viver. [...] Moram cada um na própria pátria, mas como se fossem estrangeiros; respeitam e cumprem todos os deveres dos cidadãos, e suportam todos os fardos como se fossem estrangeiros; cada região estrangeira é a sua pátria, no entanto cada pátria para eles é terra estrangeira. Como todos os outros homens se casam e têm filhos, mas não repudiam seus filhos. Compartilham a mesma mesa, mas não a cama.

Vivem na carne, mas não segundo a carne. Vivem sobre a terra, mas têm a própria cidadania no céu. Observam as leis estabelecidas, mas, com o seu modo de viver, estão além das leis. Amam todos e por todos são perseguidos [...] São pobres e enriquecem muitos, são desprovidos de tudo, e encontram abundância em tudo… São injuriados, e bendizem; são tratados de modo ofensivo, e respondem com a honra. [...]

Em suma, para dizer claro, os cristãos representam no mundo aquilo que a alma é no corpo”.

Terminada a leitura, eu me disse: também eu quero estar naquelas palavras. Gostaria que quem me encontra pudesse dizer de mim: este se assemelha a Jesus, este é um cristão. Eu entendi que não serve acrescentar outra coisa, porque não tem uma definição melhor para dizer para que Deus nos chama. Não precisamos de outros títulos. Não os procuremos! Não nos apropriemos de nada, tudo passa, fica apenas o amor, fica apenas aquilo que amamos. Neste caminho que Deus nos convida a percorrer com Ele se realiza a plenitude daquilo que somos e a tarefa que Ele nos confia.

Não procuremos outra coisa, neste seguimento já tem tudo.

Encontrei tantos cristãos verdadeiros na minha vida, mas tem um que considero o exemplo mais alto de quem já conheci. Falo de Dom Luciano Mendes de Almeida. Era um bispo brasileiro, por tantos anos presidente da Conferência Episcopal do Brasil. Era um homem manso e humilde de coração, disponível em qualquer momento do dia e da noite para qualquer um. Vestia de modo simples e modesto. Vivia em um pequeno quarto, porque recusou o alojamento episcopal. O seu dinheiro era dos pobres, os seus prediletos. Nunca procurou poder e privilégios, mas sempre se colocou a serviço dos outros. Era um homem junto de Deus: vivia a espiritualidade da Presença. Para ele, o último lugar era como o primeiro e o primeiro como último. A pergunta que sempre tinha nos lábios era “Posso ajudar?” (Lc 22, 25-27). Não tinha diferença entre quando celebrava a Missa e quando comia, dialogava, encontrava as pessoas: era sempre o mesmo, em cada momento plenamente junto de Deus e aberto ao mundo. Não se prendia em algum mérito, a sua vida se referia continuamente e simplesmente a Jesus. O nosso tempo precisa de mulheres e homens que vivem como cristãos, pensam como cristãos, falam, escutam, agem como cristãos: aqui está o fermento do pão! Caros amigos, são necessários como o pão os cristãos prontos a sumir como o fermento. Juntos os cristãos antecipam o Reino aqui e agora (Lc 13, 20-21).

Encontrei muitas pessoas assim na minha vida: mães e pais de família que tiram o pão da boca para dar aos próprios filhos e que se têm feito pais e mães de filhos que não conheceram nem o pai e nem a mãe. Encontrei muitas meninas e muitos meninos que deixaram tudo por Deus, para segui-lo, e com os seus limites e fraquezas repetem a cada dia o seu sim para que possa ser sempre novo. Encontrei muitos homens e muitas mulheres que, sem alguma ostentação, vivem a própria vida a serviço dos outros.

Gostaria de conseguir transmitir toda a beleza de ser cristãos e queria verdadeiramente que cada um de nós desejasse ser cristão não por nome mas por fato (Jo 13, 35).

Com a minha Maria*, abençoamos vocês e vocês também nos abençoem!

Ernesto e Maria

Turim, 16 de Março de 2025


*Maria Cerrato, esposa de Ernesto e cofundadora do SERMIG, que faleceu em 4 de maio de 2019.

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