Um Arsenal construído nas armações de esperança
Date 06-03-2024
No mês de fevereiro, nos pátios do Arsenal da Esperança, alguns homens começaram a se destacar com seus uniformes de construção civil. Estavam por toda a parte, nos jardins, no refeitório, sentados nos bancos. De manhã, tarde, à noite... a presença dos uniformes era notável.
Se ficássemos apenas observando, poderíamos pensar que eram trabalhadores de fora fazendo alguma manutenção nesta casa. Mas, a cada dia se aproximando um pouco mais daquele grupo, descobriríamos que eram acolhidos do Arsenal.
Mas de onde vieram aqueles uniformes? O que estavam fazendo?
Em parceria com o SENAI e a empresa Mendes Júnior, o Arsenal da Esperança pode oferecer pela primeira vez e especificamente aos acolhidos o curso de Armação de Concreto. Não foi apenas um curso profissionalizante, que na realidade já é muita coisa, mas após dez dias de aprendizado, os acolhidos já saíram com suas carteiras registradas para trabalhar nas obras da Linha 2 Verde do Metrô, contratados pela Mendes Júnior.
Para eles é uma oportunidade de se restabelecer e conseguir um próprio lar para morar.
Nos aproximando mais ainda daquele grupo, fomos ver o que tinha por trás dos uniformes, o que fazia com que os uniformes não fossem iguais. Conversando com alguns deles, primeiro entendemos toda a importância da armação de concreto para uma obra, o começo de tudo, a base. Algo que é impossível se fazer sozinho, apenas dependendo da colaboração de todo o grupo e tendo em mente a necessidade daquela armação de ferro para o que vinha depois.
Conhecemos o grupo de 13 homens, que ouvindo suas histórias era impossível padronizá-los.
Um deles, aos 45 anos, conseguiu o primeiro registro na carteira, outros da turma que vieram do exterior, de Angola, da Tunísia, a partir dessa oportunidade conseguiriam ver a possibilidade de se estabelecerem no Brasil, o país que os acolheu.
Conversamos com Chiheb, de 24 anos, que veio da Tunísia e está no Brasil há três meses.
Por que você escolheu vir para o Brasil?
-Escolhi o Brasil como meu país, porque é onde não existe racismo e discriminação por eu ser gringo. Morei dois anos na Turquia, Istambul. Na Turquia tinha muito racismo. Por ser gringo não podia trabalhar e nem frequentar a escola. Lá não tem documento como no Brasil. Nós gringos não tínhamos direito a isso, aos documentos, só tínhamos um papel.
Como você conheceu o Arsenal?
-Conheci o Arsenal através de um brasileiro, que conheci na estação de metrô Santa Cruz, depois de ter dormido duas semanas nesta estação.
Ele, que fala árabe, francês e inglês, e está aprendendo o português, conseguiu fazer o curso por completo graças à ajuda dos outros da turma que o ajudaram a entender.
Por que você escolheu fazer o curso de “Armação de Concreto”?
-Escolhi essa profissão porque já tenho experiência na área da construção e sou formado em eletricidade.
Como foi a experiência?
-A experiência foi boa e eu aprendi bem, e todos os outros da turma me ajudaram a entender.
Quais são suas perspectivas para o futuro?
-Futuramente quero me estabilizar no Brasil e iniciar o meu próprio projeto de construção e eletricidade.
Quando dissemos que gostaríamos de conversar com ele para nos contar sobre sua personalidade diante do uniforme, Chiheb gentilmente respondeu todas as perguntas por escrito em português.
Ele, quem estava no concreto frio do chão da estação do metrô à procura de um lugar para ser acolhido, agora será uma das pessoas que ajudará a levantar o concreto para uma nova estação de metrô na imensa cidade de São Paulo.
Clique aqui e conheça outras duas histórias de esperança desta turma.
Fotos: José Luiz Altieri