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Carta do Fundador

Carta à Fraternidade e aos amigos

Novembro de 2024

 

Caros amigos,

neste mês, façamos nossa a página da Regra, Uma oração incessante:

Uma oração incessante. A nossa vida tomou a estrada do Senhor quando encontramos a oração e em primeiro lugar compreendemos que não sabíamos rezar.

Desde aquele momento desejamos com todo o nosso coração, com toda a nossa mente, com todas as nossas forças, aprender a rezar e a bondade do Senhor veio ao nosso encontro. Rezar é restituir o tempo a Deus, desejar que Ele habite em nosso coração, pensar e querer o que agrada a Ele. Nós nos nutrimos todos os dias da sua Palavra, a comemos e a levamos sempre conosco. A Eucaristia nos dá a graça de nos alimentarmos de Jesus. A Liturgia das Horas nos imerge plenamente na comunhão dos santos. O rosário é o nosso confiar-se a Maria, à sua ternura, à sua maternidade. Reavivamos assim em nós a presença de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Nós O olhamos e nos sentimos olhados por Ele. Recitamos continuamente o Seu louvor: “Senhor, tu és bom, usa-me, ajuda-me, misericórdia, misericórdia”. Assim o nosso dia é marcado pelas horas de oração que se entrelaçam com a vida: orar e agir, orar e amar, orar e calar, orar e fazer, orar e escutar.

Outras presenças nos ajudam a manter viva a oração: a dos anjos, a dos santos protetores, a de tantos amigos bons que na terra e no céu continuam a orar conosco e por nós.

Quando penso no início do SERMIG, posso dizer que por muitos anos a maior parte do nosso tempo esteve ocupado pelas atividades. Nos ocupávamos praticamente todo o tempo em atrair as pessoas para a coleta de materiais, que depois vendíamos e assim podíamos sustentar melhor os missionários, em sensibilizar ao tema da pobreza, em organizar eventos e coletas em favor dos leprosos, dos pobres, de todas as partes do mundo. A oração, naquele começo, para nós era quase um detalhe, uma palavra um pouco vazia, que não conhecíamos.

O encontro com alguns gigantes do nosso tempo como Madre Teresa de Calcutá, Padre Michele Pellegrino, Frère Roger Schutz, de Taizé, Fratel Carlo Carretto, Giorgio La Pira, Dom Hélder Câmara mudaram a nossa visão. Nos tornamos diferentes. Cada um deles e muitos outros, muitos outros amigos menos conhecidos, nos ajudaram a compreender o que realmente tínhamos no coração, aquilo que desejávamos verdadeiramente era viver o Evangelho em sua totalidade e estar a serviço do Senhor. Não nos bastava indicar aos outros o caminho da justiça e da paz, queríamos nós mesmos percorrer aquele caminho, percorrê-lo como Seus amigos para levar esperança às pessoas. E precisávamos da Sua ajuda, quando entendemos que às ações pela justiça e pela paz  era preciso unir a contemplação  e que a nossa luta por um mundo melhor devia mergulhar profundamente na oração. É possível mudar o mundo, mas a partir de nós mesmos, e a chave dessa mudança é a oração, absolutamente a oração: “Se o Senhor não construir a casa, é inútil o cansaço dos construtores” (Sal 127, 1).

Nós, que não sabíamos rezar, começamos um percurso de fidelidade à oração, sem importar se éramos em muitos ou muitíssimos, ou poucos , o importante era começar a colocar a oração em primeiro lugar. A oração se tornou uma escolha e a nossa história se tornou história de um encontro com Deus.

Nos colocou em relação com Ele, se tornou diálogo contínuo com Ele. Permitiu que déssemos sentido e direção às nossas ações, fez com que nos tornássemos mais verdadeiros, mais confiáveis, mais profundos, mais humanos. Aprendemos que se a oração é verdadeira nos abre a mente, muda o nosso olhar, ajuda a orientarmos os nossos pensamentos e desejos e perceber as coisas de um modo diferente. Naquele espaço de encontro face a face, Deus coloca raízes em nós e nós nos tornamos mais de Deus.

A oração tem muitas formas diferentes de se expressar. Rezar, às vezes, é me colocar em silêncio aos pés de Jesus, dizendo-lhe, reze comigo. É estar com Ele, que é amigo, para aproveitarmos a Sua presença e entre amigos, estamos bem, mesmo que em silêncio.

Outras vezes a oração é uma simples repetição de uma palavra, um versículo da Bíblia que me ajudar a manter o coração unido ao de Deus e a elevar os olhos para vê-lo melhor. É se colocar em escuta da Palavra de Deus, comê-la, tornar-se uma coisa só com ela e me deixar instruir por uma Sabedoria eterna.

Rezar é amar, é um ato de amor. Ter diante dos olhos os rostos das pessoas que amo, é acompanhar as suas vidas, compartilhar dificuldades, sofrimentos, tragédias, carregando-os juntos. É ter o mundo no coração, amigos e inimigos, sem deixar ninguém de fora.

Há uma oração em particular que me faz companhia a cada dia, é o Rosário. Fica no meu bolso. Vou rezando quando caminho e quando descanso. Minha mãe me ensinou a rezar o terço quando era pequeno, era uma criança e eu, com naturalidade, imitando minha mãe, comecei a repetir Ave-Maria.

A oração é o modo mais concreto que conheço para investir o tempo pois é dar espaço a Deus que age sempre e assim dá sentido ao tempo. Se é verdadeira, não me fecha em mim mesmo e não me afasta da realidade, ao invés disso me abre a todos, me conduz às necessidades de quem está ao meu lado, me leva a me abrir aos outros, aos pobres, aos aflitos, aos encarcerados, a vestir quem está nu, a dar de comer a quem tem fome, a visitar quem está doente. Não é uma ilusão que me faz afastar o olhar dos problemas do mundo, ao contrário, é certeza que me faz olhar para os mesmos problemas com confiança, com esperança, me faz presente ao mundo inteiro, me faz amigo, irmão de cada ser humano. Cria comunhão.

Caros amigos, neste tempo de Advento que estamos por começar, gostaria que todos, todos os dias, juntamente à leitura da Palavra, tentássemos estar um pouco mais em silêncio, silêncio em nós mesmos, para dar lugar a Deus, para escutar a Sua Voz, que nunca deixa de falar nos nossos dias corridos.

O tempo que vivemos é um tempo difícil. Com a oração conseguiremos vivê-lo e atravessá-lo de um modo melhor.

Com a minha Maria*, abençoamos vocês e vocês também nos abençoem.

 

Ernesto e Maria

Turim, 24 de Novembro de 2024


*Maria Cerrato, esposa de Ernesto e cofundadora do SERMIG, que faleceu em 4 de maio de 2019.

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