Carta à Fraternidade e aos amigos
Abril de 2024
Caros amigos,
Toda a Bíblia é percorrida pelo fogo. “O Senhor vos falou do fogo” (Dt 4,12). Fogo é a Palavra do Senhor, fogo é a Sua ira, fogo o Seu amor, fogo a Sua inspiração, fogo a purificação, fogo que não se extingue nem mesmo na Geena onde são atirados a morte e o inferno, “porque o seu amor é para sempre” (Sal 136; Dn 3,89).
Jesus repete aos seus amigos “Fogo eu vim lançar sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). E eu gostaria que esta carta nos ajudasse a acender o fogo que Ele trouxe, o fogo da Sua Palavra.
Fogo que nos lembra que nós estamos vivendo, aqui, agora, a realização de uma profecia que quis se encarnar em pobres pessoas como nós. Fogo que nos lembra que uma profecia pode se apagar se nos enchemos de orgulho, se caímos nas competições, se colocamos o eu no lugar do nós, se buscamos aplausos, sucesso, frutos imediatos e evidentes pela vida que escolhemos levar.
Perceber que no meio de nós pode se insinuar tudo isso para mim é insuportável. Há muitos anos esta comunidade nasceu de uma intuição compartilhada com amigos maravilhosos e contra o parecer de muitos. Cresceu através de todos vocês e da sua generosidade. Sinto que agora é preciso dar um salto. É preciso de um renascer na obediência, na acolhida do outro, no não julgar, no amor gratuito, no dom de si. Sem esse fogo que é Ele, o fogo se extingue. Extingue-se a comunidade, como na história da Igreja já se extinguiram centenas.
Jesus Ressuscitado nos espera na margem das nossas difíceis e, às vezes, infrutíferas travessias, com um fogo aceso nos acolhe, nos dá de comer o Seu Pão (Jo 21,9) e nos prepara para um novo Pentecostes. Mais uma vez “línguas como de fogo”, se dividirão e pousarão sobre cada um (At 2,3).
Que o Espírito Santo reacenda o fogo em cada um de nós e na comunidade inteira. Ele é fogo. Vamos acolhê-lo, vamos fazê-lo se alastrar, deixemos que o fogo do Espírito nos acenda.
“Guarda-me como um sinal sobre teu coração, como um sinal, sobre teu braço! Porque o amor é forte como a morte e é cruel, como o abismo, o ciúme: suas chamas são chamas de fogo, labaredas de fogo, labaredas divinas!” (Ct 8,6): Ele sabe que não nascemos para ser mornos, nascemos para ser fogo que queima de amor. Para sermos, cada um de nós, portadores de uma chama que tem dentro dela o fogo do amor de Deus com o qual devemos incendiar a porção de mundo que nos foi confiada.
Recomecemos com este fogo dentro de nós.
Com a minha Maria, com o Céu que vive conosco, abençoamos vocês e vocês nos abençoem.
Ernesto e Maria
Turim, 21 de abril de 2024.