Pace, cosa posso fare per te?
Date 27-05-2022
Paz, o que posso fazer por você?
Caros amigos,
"Paz, o que posso fazer por você?" conclui a reflexão do Sermig nesses meses de guerra na Ucrânia e é a síntese do nosso pensamento sobre o desarmamento e sobre a paz. Ajudem-nos a difundi-lo. Em nosso site poderão encontrá-lo também traduzido em inglês, francês, espanhol e alemão. Agradecemos de coração!
ALGUÉM PRECISA CONTINUAR A LEMBRAR AO MUNDO AS RAZÕES PARA A PAZ
Estas palavras de paz nascem da vida verdadeira, da experiência do primeiro arsenal militar no mundo transformado em Arsenal de Paz. Foi o que aconteceu em Turim, na Itália, graças ao Sermig, realidade de paz e solidariedade fundada por Ernesto Olivero e sua mulher Maria. Em quase 60 anos de história, centenas de milhares de pessoas acolhidas, projetos de desenvolvimento em 155 países nos cinco continentes, dezenas de missões de paz em locais marcados pela guerra, outros Arsenais abertos no Brasil, na Jordânia e na Itália: um movimento de povo, de pessoas de todas as idades, culturas e confissões religiosas unidas pelo ideal da bondade que desarma. O Arsenal da Paz busca realizar desde agora a profecia bíblica de Isaías: o sonho de um tempo em que as armas não serão mais construídas e os povos não se exercitarão mais na arte da guerra. Nas casas do Sermig, esta "utopia" é já uma realidade. As palavras dessa carta são sua consequência natural.
PAZ, O QUE POSSO FAZER POR VOCÊ?
Cara amiga, caro amigo,
Nas primeiras semanas de março de 2022 o Arsenal da Paz foi “invadido” por uma impressionante torrente de bem e generosidade à qual muitos cidadãos, famílias, associações, escolas, paróquias, empresas, instituições locais de toda a Itália deram vida. A indignação e a incredulidade sacudiram as consciências, gerando uma maravilhosa reação de solidariedade em resposta à violência de uma infeliz guerra. As mãos estendidas, desarmadas, de todas essas pessoas de boa vontade nos reconciliam com o sentido de humanidade, salvam a alma do mundo. Mais de trezentas mil pessoas trouxeram até agora mais de mil e quinhentas toneladas de auxílios. A grande confirmação da denominação que a cidade de Turim se conferiu em 2008: “Turim Cidade do Arsenal da Paz”.
Estes gestos que vêm “de baixo” exprimem um extraordinário desejo de paz que se torna também uma mensagem importante para os grandes da Terra. Esta é a paz em que cremos, a paz que nos fez conhecer Giorgio La Pira, prefeito de Florença e grande homem de diálogo, citando o profeta Isaías: um tempo em que as armas serão transformadas em instrumentos de trabalho e os povos não se exercitarão mais na arte da guerra. Tornou-se o nosso sonho, a escolha concreta de todos nós que vivemos a aventura de transformar o velho arsenal militar de Turim em Arsenal de Paz.
A guerra nunca é a solução! Entendemos isto ajudando muitos países em guerra, agora a Ucrânia. Digo frequentemente que as armas matam sete vezes.
A primeira é quando são projetadas, porque subtraem recursos da pesquisa, da escola, da vida.
A segunda é porque para construí-las são empenhadas inteligências que poderiam se dedicar ao desenvolvimento no campo científico, tecnológico, ambiental e médico.
A terceira porque as armas matam sem olhar o rosto de ninguém, destroem e forçam milhões de pessoas a deixar os seus entes queridos, as suas casas, seus países...
A quarta é porque são usadas para fins de vingança.
A quinta é a mais trágica, porque em uma guerra, militares e civis exaltados cometem todo o tipo de atrocidades com suas vítimas.
A sexta porque vítimas e algozes levam eternamente consigo a lembrança insuportável dos horrores sofridos e cometidos, até o ponto de tirarem a própria vida.
A sétima porque a guerra deixa um rastro de ressentimentos e espaços de ódio que prolonga os seus efeitos nefastos.
Não são apenas essas as consequências negativas da guerra: penso especialmente nas crianças soldado, convocadas a combater, forçadas a matar para demonstrar a sua força, penso em gerações inteiras de crianças e jovens que nos mais preciosos anos de seu crescimento só conhecem a guerra, trarão para sempre consigo feridas profundas. Uma delas, que viveu quando menina o drama da guerra na antiga Iugoslávia, recentemente escreveu: “A guerra só faz vítimas e a primeira vítima é a verdade”.
E é exatamente por essas razões que nunca nos acostumaremos à guerra e continuaremos a lutar para combatê-la, continuaremos a trabalhar para a paz e a buscá-la com todas as nossas forças.
A paz verdadeira é um fato que deriva de obras de justiça. É um mundo que acolhe cada homem e mulher de qualquer origem e religião porque todos têm direito a alimento, casa, trabalho, saúde, dignidade, instrução. É um mundo em que jovens e adultos estão prontos a fazer da própria honestidade a chave para a construção do bem comum. É a compreensão de que o bem que eu posso fazer, ninguém mais pode, porque é a parte de bem destinada a mim, é a minha responsabilidade.
Esta mentalidade se tornou a nossa bússola e, lentamente, mas decididamente, já abraçou milhões de pessoas que puseram à disposição tempo, dinheiro, conhecimentos profissionais para enxugar uma lágrima, sustentar quem é fraco, formar os mais jovens sem pedir nada em troca.
Agora pedimos aos jovens e às instituições de ensino de qualquer grau para que isso se torne também uma prioridade educativa, orientando a formação acadêmica, a partir da infância até a universidade. Ser formado e crescer na paz significa se tornar, desde jovens, cidadãos responsáveis e guardiões do diálogo e da dignidade de cada pessoa.
A nossa consciência nos empurra a bater nas portas das organizações internacionais nascidas da aspiração pela paz entre os povos para que garantam sempre mais concretamente e sem reservas a dignidade e os direitos fundamentais de cada pessoa, respeitem e protejam as minorias e promovam a igualdade, que seja banido o uso das armas, tenham a autoridade e o reconhecimento moral para parar as guerras e para remediar as injustiças através da diplomacia e, onde necessário, mediante missões de paz. Um esforço concreto que ajude todos a entenderem que o verdadeiro inimigo é o ódio e que o nosso futuro se defende com a paz.
Se esta mentalidade ganhar espaço no coração de muitos, o mundo pode realmente mudar. É a esperança que nasce mesmo diante da tragédia mais terrível, a esperança que diante de pessoas em dificuldade nos leva sempre a dizer: “Irmão, irmã, o que posso fazer por você?”
Ernesto Olivero
e a Fraternidade do Sermig
24 de maio de 2022